O Departamento de Justiça dos Estados Unidos e mais 16 estados americanos estão processando a Apple por monopólio. O DOJ (na sigla em inglês) acusa a big tech de usar táticas anticompetitivas para favorecer os seus produtos e se manter dominante no mercado. A investigação foi aberta em 2019, mas nesse período a divisão antitruste do DOJ optou por focar sua atuação no caso sobre o Google.
Entre os pontos da investigação que levou o Departamento de Justiça a abrir o processo contra práticas anticompetitivas e de monopólio estão:
- Bloqueio de aplicativos de streaming na nuvem, como o streaming de jogos Nvidia Geforce Now — segundo o DOJ, esses serviços diminuem a necessidade de smartphone caro e de alto desempenho, o que prejudicaria as vendas da Apple.
- Suprimir a qualidade e integração das mensagens entre o iPhone e outras plataformas do Android.
- Dificultar a criação de carteiras digitais com a funcionalidade tap to pay por terceiros.
Porém, o mais “estranho” é o argumento da Apple limitar a funcionalidade de smartwatches de outras marcas no iPhone e de restringir a compatibilidade do Apple Watch. Segundo o DOJ, desse modo, a big tech força os usuários de iPhone a comprar o seu relógio.
Além do mais, a Apple utiliza essa estratégia de fazer o Apple Watch compatível apenas com seus smartphones para não prejudicar as vendas do iPhone. Afinal, se um cliente compra um Apple Watch e usa com um Xiaomi 14 Ultra, a big tech perdeu uma venda do iPhone.
No entanto, a Samsung também removeu a compatibilidade do Galaxy Watch com o smartphone da rival. Caso a Apple saia derrotada desse processo e a justiça americana a obrigue a liberar o Apple Watch para Android, é provável que a Samsung abra o Galaxy Watch para o iPhone — seja por conta própria ou por “livre e espontânea pressão” de ser alvo de um processo similar.
Apple se pronunciou sobre o caso
Fred Sainz, porta-voz da Apple, disse que o processo ameaça os princípios da Apple. Sainz declarou que, caso saia derrotada, a capacidade de “criar o tipo de tecnologia que as pessoas esperam da Apple” seria prejudicada.
A situação da Apple parece estar mais complicada por agora. Apesar de ser inocentada no processo de monopólio aberto pela Epic, a juíza responsável declarou que a big tech não poderia impedir que os desenvolvedores divulgassem seus próprios meios de cobrança.
Por mais que a Epic seja uma empresa grande, o Departamento de Justiça, órgão equivalente ao nosso ministério de justiça, é um inimigo muito maior. A questão piora também pelo fato de que a comissão da câmara dos Estados Unidos também já considerou que a Apple detém monopólio no iOS.
Bolha azul vs. bolha verde
O processo também fala sobre a “rivalidade” entre bolha azul e bolha verde no app de mensagem do iPhone. Essas cores se referem a cor da bolha de texto recebida no aplicativo. Se a mensagem foi enviada entre iPhones, que utilizam o protocolo iMessage, a mensagem aparecerá sobre um fundo azul. Já as enviadas entre iOS e Android (protocolo SMS) aparecem na bolha verde.
O documento relata, entre outras coisas, o problema de impedir a criação de chats em grupo com usuários do Android no app de mensagens do iPhone. No Brasil isso não é um incômodo, já que todo mundo está no WhatsApp. Todavia, nos Estados Unidos, o iPhone é o smartphone de 85% dos adolescentes do país.
Um grupo de amigos só conseguirá usar o chat em grupo do Mensagens se todos tiverem um iPhone. Se um amigo migra para o Android, já era: tem que falar para a galera baixar o WhatsApp. Em breve, o protocolo RCS será suportado no iOS, mas isso não mudará o uso do iMessage entre iPhones — nem as cores das bolhas.
Na União Europeia, por causa da DMA, o WhatsApp foi obrigado a permitir o envio e recebimento de mensagens de outros aplicativos, como Signal e Telegram. Aqui a Apple escapou porque o Messages não foi considerado um aplicativo de alto uso no continente.
Com informações: Bloomberg, The Verge e TechCrunch