Nos altos e baixos das bolsas, perder um pouco em um dia e recuperar até o dobro ou mais no seguinte, faz parte do jogo capitalista. Mas há exceções, como no caso do tombo que o LVMH levou na Euronext Paris nessa quarta-feira (11). Encerrada a sessão do dia, a ação do conglomerado francês valia 6,46% a menos do que seu preço logo na abertura do pregão.
Uma queda de quase €25 bilhões (R$ 134,2 bilhões) no valor de mercado da companhia dona de marcas como Louis Vuitton e Dior, que no momento tem capitalização de €360,8 bilhões (R$ 1,94 trilhão), ou mais de quatro vezes a da Petrobras.
As negociações diárias na Euronext Paris, a antiga Bourse de Paris e principal bolsa de valores da França, geralmente ocorrem entre 9h e 17h30 no horário local. Isso equivale a aproximadamente 8 horas e 30 minutos de atividade de mercado. Dado esse período, a perda que o LVMH sofreu equivale a quase €50 milhões (R$ 268,5 milhões) a cada minuto.
Fundador e maior acionista do LVMH, Bernard Arnault controla, indiretamente, 41,4% de seu capital. Ele detém essa participação por meio de uma participação direta de 97,5% na Christian Dior Couture SA.
Individualmente, Arnault viu €12 bilhões (R$ 64,4 bilhões) evaporarem devido à desvalorização do papel de seu ativo mais luxuoso. Isso equivale a uma perda de cerca de €23,5 milhões (R$ 126,2 milhões) a cada 60 segundos, no mesmo período mencionado anteriormente.
Atualmente, sua fortuna é estimada em US$ 180,2 bilhões (R$ 910 bilhões). Essa cifra inclui investimentos variados, como ações da Netflix e da chinesa ByteDance, a controladora do TikTok. Titular, entre idas e vindas desde 2001, da primeira posição na lista das pessoas mais ricas do mundo, agora está na segunda posição, abaixo de Elon Musk e de seus US$ 261,7 bilhões (R$ 1,3 trilhão).
O motivo por trás da quarta nada silenciosa do LVMH na Bourse foi a divulgação, na noite da véspera, do balanço do terceiro trimestre. Em azul forte, as receitas entre julho e setembro chegaram a €20 bilhões (R$ 107,4 bilhões), 9% maior que as do trimestre imediatamente anterior, que por sua vez tinham aumentado 17% em relação ao primeiro trimestre de 2023.
Analistas e investidores esperavam por números razoavelmente mais positivos, embora os divulgados estejam alinhados com projeções que indicam o ‘fim técnico’ da recessão nos mercados mundiais de produtos de alto padrão, e de um setor que deverá movimentar US$ 1,2 trilhão (R$ 6,1 trilhões) em 2023, com um aumento anual de 4%, somente de 2024 pra frente ‘zerando’ as perdas da COVID-19, como uma da Euromonitor, de julho.
Mas, na verdade, foi um outro resultado específico que saltou aos olhos da turma de financistas: as vendas da divisão de vinhos e destilados do LVMH, da qual carrega duas de suas 25 marcas na sigla de sua denominação legal (LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton), despencaram 14% nos últimos três meses, para €1,5 bilhão (R$ 8 bilhões).
Mesmo sendo um ‘nicho’ diante do faturamento total do gigante do luxo – somou perto de €4,7 bilhões (R$ 25,2 bilhões) dos €62,2 bilhões (R$ 334 bilhões) totais faturados nos nove meses encerrados em setembro – é um carregado de significados. Assim como um forte desempenho nos valores gerados por essas bebidas implica oportunidades, o contrário também vale. Atreladíssimas ao conceito de prazer exclusivo, champanhes como o Moêt & Chandon, e conhaques como o Hennessy, quando vendidos aos montes em certos mercados, podem ser vistos como indicadores da saúde econômica nos mais relevantes.
No caso de uma divisão tão sensível como essa, que parece enfrentar percalços, pode ser um sinal de alerta sobre aspectos mais amplos da empresa e na economia, como questões de gestão ou problemas de cadeia de suprimentos.
Margens altas na venda de vinhos e drinks espirituosos podem contribuir significativamente para a lucratividade da empresa, mesmo que a divisão não seja a maior em termos de receita. Um forte desempenho na divisão de vinhos pode indicar uma empresa bem diversificada, capaz de gerar receitas de múltiplas fontes. Por fim, um aumento nas vendas pode refletir tendências de consumo favoráveis que podem ser aplicáveis a outros departamentos.
Assim como nos balanços, oscilações em pregões contêm surpresas – em um só, bastam algumas horas para que US$ 12 bilhões se evaporem. Mas em outro podem ressurgir líquidos, como no de 22 de abril de 2021, uma quinta-feira, quando US$ 2,3 bilhões (R$ 11,6 bilhões) inundaram as contas, e ainda nas primeiras operações do dia.
Tamancadas: Quando o grito do luxo ecoa pelos mares
A quarta-feira (11) não foi desastrosa apenas para o LVMH. Longe da Bourse de Paris, a Birkenstock, centenária fabricante alemã de sandálias, fez sua aguardada Oferta Pública de Ações (IPO) na Bolsa de Valores de Nova York. Seu CEO, Oliver Reichert, foi quem tocou o sino para abrir o pregão em Wall Street. Contrariando suas expectativas de atrair investidores com o badalo, a recepção foi menos do que calorosa.
Apesar do entusiasmo gerado durante o road show, a Birkenstock conquistou o raro feito de estrear em queda: o preço por ação foi fixado em US$ 46 (R$ 232,30) na pré-abertura de terça-feira (10) e terminou o dia valendo US$ 40,20 (R$ 203,01), uma queda de 12,6% em relação à sua primeira cotação.
A expectativa era que a marca de calçados, fundada em 1774 na Alemanha e recentemente destacada no filme “Barbie”, capitalizasse o sucesso de marketing do filme. Entretanto, o cenário foi o oposto. Parece que os ‘wall-streeters’, mesmo usando suas Birkens, preferem fazê-lo apenas em casa.
Ainda há motivos para otimismo: embora a empresa não tenha alcançado o market cap desejado de pelo menos US$ 10,5 bilhões (R$ 53 bilhões), ela ainda vale consideráveis US$ 8,64 bilhões (R$ 46,3 bilhões).